O Brasil que Funciona | Economia em Foco por Luiz Resende

28/07/2020 as 10:14

Terça, 28 de julho

O Brasil vive momentos turbulentos em sua economia em função dos estragos causados pela epidemia do Covid-19.  Notícias ruins não faltam. 

Vejam só: 
-A pandemia do novo coronavírus deve fazer o produto interno bruto do país encolher até 9% segundo previsões do FMI.

-O PIB da indústria deverá encolher 7,9%, seguido de uma queda de 9,8% no comércio e de 5,5% nos serviços, segundo projeção da FGV, que considera uma retração total da economia brasileira de 6,4%.

Poderíamos ficar aqui ocupando longos espaços para falar da crise. Mas existe o Brasil que dá certo e que não está nem aí para o COVID-19, ou melhor, está aproveitando a crise para crescer.

Estamos falando do setor de agricultura. Enquanto os demais setores da economia devem sofrer perdas amargas neste ano, o PIB do agronegócio deve crescer 2,5%, chegando a 728,6 bilhões de reais. “Será o maior valor obtido na história pelo setor, algo bastante positivo em um ano em que a economia está tão cambaleante”, diz o economista Renato Conchon, coordenador econômico da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

Os números recordes do agronegócio em 2020 são possíveis porque o setor vive uma escalada de produtividade iniciada na década de 1970. Vem dessa época uma série de políticas públicas e investimentos no desenvolvimento de novas tecnologias que foram fundamentais para os ganhos de competitividade do setor. Com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1972, teve início o desenvolvimento de sementes adaptadas ao clima tropical — até então, elas eram importadas de países como os Estados Unidos.

Não demorou para que novas fronteiras agrícolas fossem abertas, com a expansão para o Cerrado e para a região que ficou conhecida como Matopiba, que envolve parte dos territórios de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. O desenvolvimento de novos sistemas de plantio, com a preservação dos restos vegetais que cobrem os terrenos e garantem maior presença de nutrientes, foi outro avanço importante. “A geração de riqueza e a produtividade do agronegócio não param de crescer há décadas graças a uma política pública de incentivo à pesquisa, à orientação técnica oferecida aos produtores e às novas tecnologias”, diz Gasques.

O uso da tecnologia no campo possibilitou essa revolução na produtividade e na qualidade do produto brasileiro, garantindo o contínuo aumento da produção e exportação, fazendo com que o agronegócio atinja hoje cerca de 23,6% do PIB brasileiro, ante 19% em 2010. 

O destino principal das nossas exportações agrícolas é a Ásia, em especial a China que respondeu por 40% das exportações do setor no primeiro semestre de 2020, gerando US$ 20,5 bilhões de vendas, segundo levantamento realizado pela Secretaria de Comércio e Relações Exteriores do Ministério da Agricultura. Na sequência temos os outros países da Ásia com 17% seguido da União Européia com 16%.

O peso das exportações para a China preocupa pela concentração e a conseqüente dependência, mas lembrando que essa relação tem duas mãos, deixando também a China em uma situação em que essa dependência do mercado agrícola brasileiro faz essa parceria se equilibrar.

Os 10 principais produtos exportados pelo País representaram 80% da receita de exportações do gerados pela comercialização externa de carne bovina (7%). Na sequência, entre os maiores faturamentos, constam celulose (6%), carne de frango (6%), farelo de soja (6%), açúcar (5%), café agronegócio. Do total, R$ 20,5 bilhões vieram das vendas de soja (40%). Outros R$ 4,5 bilhões foram (4%), algodão (2%), carne suína (2%), papel (2%) e demais commodities (20%). 

E quais são as oportunidades ainda não exploradas?

Segundo a Ministra a agricultura Tereza Cristina “Há muitas. Podemos, por exemplo, aumentar os embarques de frutas. Quando estive na Índia, vi que há espaço para exportar mais café e até gergelim, muito consumido por lá. O Brasil pode se tornar a maior potência mundial do agronegócio.”

Fica aí a dica aos nossos administradores públicos para que criem a possibilidade de expansão destes setores na região, não com  investimento direto, mas oferecendo ferramentas para que o agricultor possa ter acesso a tecnologias e treinamento, melhorando a qualidade e saindo da categoria de produção de subsistência (agricultura familiar) para a de empreendedor rural.


Luiz Resende, economista, para a Rádio 98 FM