
A tudo quanto me rodeia estou atento, do mais banal evento a uma singular ocorrência. Sou aquele que observa, com lentes detalhistas, o aparecer das coisas comuns ou improváveis dentro do cotidiano cenário de Teófilo Otoni. Para alguns pode até parecer uma incomensurável perda de tempo, ofício específico, predileto dos desocupados.
Discordo, é claro, já que não estou com a vida ganha, muito pelo contrário. Portanto, vigio o dia a dia com atenção focada nos detalhes, mas sem deixar de fazer o que de prático tem de ser feito, inda que seja por cima de pau e pedra.
Nunca me arrependi desse meu jeito de olhar o mundo desde que me entendia por gente lá em minha cidade natal Coroaci e habitante transitório do nosso tão maltratado planeta. É assim que caço material para compor minhas histórias. De quando em vez me caem nas mãos verdadeiras preciosidades que nem a imaginação mais feérica seria capaz de elaborar. Penso que o real é a fonte frutífera das palavras logo derramadas em ideias prontas para serem esparramadas nesse espaço. O mais não sei como explicar, só escrever ou transcrever, para ser exato, fiel à verdade dos fatos.
Senão, vejamos. Na tarde desta quinta-feira (03/03), por exemplo, enquanto percorria o centro da cidade, pude observar um veículo, pintado de uma cor deveras berrante, escandaloso, passando na avenida Getúlio Vargas. Ora, tal ocorrência levou-me a bater três vezes na madeira num gesto automático de legítima defesa e, em seguida, excomungar o dito cujo. Sabe-se lá, com tanta poluição sonora a nos incomodar nessa que já foi a Cidade do Amor Fraterno e que ainda nem sequer chegou a ser a Cidade Coração, nada me custa tomar cuidados preventivos usando de tradicionais mandingas, inclusive.
Bem, pensei, mais um carro com seus alto-falantes se esvaindo em altos decibéis não é um sinal de que eu vá sofrer um infarto do miocárdio por conta dessa poluição sonora.
Como não há uma efetiva punição a esses “filhos de chocadeira” – que nem sequer respeitam as próprias mães – pra não dizer outros impropérios, tentei aliviar a minha ira e da cabeça espanei os maus presságios. Portanto, desse esperançoso ponto de vista, encontro-me a salvo, pelo menos por enquanto, de partir para o Além. Aliás, nenhum de nós se considera de malas aviadas para tal. Nem para a vida estamos devidamente apetrechados, quanto mais para a morte, bem desconfio.
Amanhã, certamente será um novo dia...








